Um paciente considerado refratário provavelmente está tomando coquetel pesado de drogas psiquiátricas. O médico limitado pela própria lógica médica acha que isso deveria funcionar e que portanto o caso é gravíssimo. O eletrochoque pode fazer o tratamento do paciente refratário mudar de lógica. Ele pode quem sabe reduzir o coquetel de drogas psiquiátricas. Isso deve ser levado em consideração como uma variável adicional. Coquetéis de drogas tornam a pessoa praticamente um zumbi.
Se o paciente é considerado refratário provavelmente todo o seu ambiente social é medicalizador. O que não ajuda muito no tratamento. Ou o médico psiquiatra acredita que terapia cognitiva é o melhor tratamento que existe somente porque é um método próximo da lógica médica e que usa raciocínio estatístico. Provavelmente o médico psiquiatra não sabe o que é contingências de reforçamento ou menospreza análise do comportamento. Portanto, nem tudo foi tentado.
Voltando a prática médica, drogas psiquiátricas não tem grande eficácia. Muito menos com coquetéis pesados. Não alteram comportamentos através de contingências de reforçamento. Como o médico não sabe o que é contingência de reforçamento, não imagina que a pessoa pode começar a fazer o que é esperado dela para evitar o tratamento com o eletrochoque. Outra variável é se a ansiedade do ambiente social sobre a saúde do paciente se reduz e o ambiente social tem expectativa de melhora.
Falar em desfibrilador para o cérebro não faz muito sentido. Somente para o médico que quer simular a lógica médica da cardiologia. O cérebro age diferente do coração com a eletricidade. No cérebro a eletricidade lobotomiza as células nervosas. O coração apenas se contrai.
Dentro da lógica médica ou manicomial, o médico põe viseira teórica. Se fosse capaz de sair da lógica médica ou manicomial viria os pacientes refratários, ou que considera incuráveis e irrecuperáveis, melhorar. O pessoal da lógica manicomial ou médica acredita que não há solução fora da lógica médica e por isso defende que é negligência criticar o tratamento médico ("omissão de socorro"). Provavelmente o entusiasmo com o eletrochoque vem de reduzir a frustração dos médicos em relação aos "transtornos incapacitantes".
Obs: A única proximidade que tive com casos assim quando escrevi esse texto foi um paciente bipolar no CAPS que recebeu indicação de eletrochoque. O único problema que ele aparentava ter era que a vida profissional dele não começava.
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