O antropólogo no campo, ao lidar com pessoas, é mais capaz de perceber como são elaboradas as estratégias de vida particulares. Mesmo ao procurar padrões e regularidades, a sua experiência pode mostrar, se não estiver numa postura excessivamente rígida, que os indivíduos e subgrupos fazem leituras particulares de sua cultura em função de suas características próprias. Há, portanto, uma gama de variação que não impossibilita a procura de padrões. O que acontece, muito frequentemente, é que o investigador não quer ver tais variações como possibilidades dadas pela própria situação sociocultural em que as pessoas estão interagindo. Neste caso, rotulará os exemplos mais visíveis de “desvio”, “inadaptação” etc. Ao fazê-lo, poderá estar tomando como verdade científica as representações de alguns indivíduos ou de uma facção dentro da sociedade estudada. Ou seja, estará trabalhando com um modelo estático e parcial que pouco o ajudará. Em vez de apreender possíveis conflitos e problemas estruturais estará simplificando a realidade, assumindo a ideologia de um grupo de indivíduos, geralmente o que tem mais poder.
O estudo do comportamento desviante: a contribuição da antropologia social - Texto do antropólogo Gilberto Velho
Nenhum comentário:
Postar um comentário