Permanecendo fora do mundo
Uma vez que desistentes tenham fugido de suas famílias,
escolas, ou comunidades coercitivas, eles mantêm sua distância.
Tendo se libertado de um ambiente aversivo, eles então fazem tudo
que estiver ao seu alcance para impedir que esse ambiente restabe-
leça seu domínio. Manter-se sem envolvimento é um ato de esquiva.
Jovens desistentes podem adotar um estilo de vida tão dife-
rente daquele do qual fugiram que sua comunidade original os julga
como tendo se tornado indesejáveis e até mesmo perigosos. Ambien-
tes pobremente mantidos e insalubres trazem perigos para os fugiti-
vos mas servem para uma importante função; eles mantêm o resto
da sociedade a uma certa distância. Famílias, considerando a nova
filosofia, os novos costumes, o novo ambiente e a aparência física de
seus filhos objetáveis e assustadores, abandonam tentativas de tra-
zer de volta a ovelha desgarrada.
Tendo fugido de indivíduos e instituições sociais coercitivos,
desistentes freqüentemente são atraídos para comunidades "margi-
nais" que afirmam que reforçadores mundanos, como pagamento
por trabalho ou talento, são incompatíveis com reforçadores como o
amor, a afeição e o compartilhar que se originam de relações pes-
soais não-egoístas. Juntando-se a uma comunidade com estilo de
vida alternativo, eles se oferecem a um líder carismático para explo-
ração, em troca de proteção contra a sociedade que rejeitaram. Toda
a renda vai para o guru que é, presumivelmente, incorruptível por
dinheiro e pelos confortos que ele torna disponíveis.
O que isto significa é que a sua abdicação de responsabilida-
de e de tomada de decisões permite aos membros de cultos ignorar
e, portanto, se esquivar de pressões para voltar à cena da qual eles
desistiram. Uma atração importante de comunidades e seitas margi-
nais é seu sucesso em proteger membros daquele outro mundo onde
suas vidas foram dominadas por fuga e esquiva. Pode levar tempo
pafa que eles descubram que seus novos reforçadores também são,
na sua maioria, negativos.
Quando a dor de um choque é atrasada, a aprendizagem da
esquiva será lenta; podemos ter de aceitar muitos choques antes de
aprender a evitá-los. Com drogas, também, um longo tempo pode se
passar entre causa e efeito. Drogas que causam adição têm compo-
nentes reforçadores que tornam ainda mais difícil aprender a se
esquivar delas. Também relações pessoais destrutivas freqüente-
mente contêm elementos positivos que por algum tempo sobrepujam
nossas inclinações de nos esquivarmos de situações aversivas. Viver
utria vida de isolamento social ou intelectual pode impor privações,168
Murray Sidrnan
desconfortos físicos e estresses biológicos que terminam em doença
e inabilidade para manter nossa independência. Desistentes do veio
central da sociedade freqüentemente sofrem desses resultados atra-
sados. Eles descobrem que seu novo ambiente desaprova curiosida-
de intelectual, faz com que se sintam culpados por qualquer sinal de
individualidade e considera desconforto e doença como formas de
distinção. Aquilo que primeiro pareceu afetuoso paternalismo torna-
se uma outra forma de exploração. Quando os elementos destrutivos
de seus novos estilos de vida se tornam óbvios o suficiente para
gerar um novo ciclo de esquiva, jovens desistentes podem já ter se
prejudicado irrecuperavelmente.
Mesmo que se mantenham saudáveis, portas terão se fecha-
do para eles, fechando seu acesso à oportunidade para inde-
pendência intelectual, econômica ou política mais convencionais,
ainda assim mais construtivas. Os componentes aversivos de suas
novas vidas podem finalmente tomar-se suficientemente fortes para
sobrepujar os atrativos originais, mas freqüentemente é muito tarde
para ação efetiva.
O reconhecimento dos componentes de esquiva na conduta
dos desistentes da sociedade torna-se mais importante quando que-
remos trazê-los de volta. Tendemos a colocar a culpa nas comunida-
des ou contraculturas que atraem os desistentes, ou em seus estilos
de vida alternativos. Mas a falha está na coerção que permeia as
interações sociais "normais". Ainda que um observador não-envolvido
possa ver as novas formas de coerção a que muitos desistentes se
submetem, permanece o fato de que eles consideram a nova coerção,
pelo menos temporariamente, menos aversiva que a antiga.
Se a sociedade pretender ter uma abordagem construtiva
para o problema de ganhar de volta seus membros perdidos, parti-
cularmente seus jovens, um primeiro passo necessário é admitir que
o comportamento de desistir é esquiva. Compreender as origens da
esquiva iria nos levar a examinar nosso próprio ambiente. Então,
poderemos identificar os choques que tornam as barrar de "desistir"
efetivas. A falha corrigível não está na aparente atratividade dos
alternativos, mas na relativa coercitividade da linha de base "nor-
mal". Em vez de perguntar "para onde foram os desistentes?", deve-
mos perguntar: "De onde eles vieram?"
Coerção e suas implicações - Sidman
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