Limitações da psiquiatria biomédica Controvérsia entre psiquiatras farmacológicos e reforma psiquiátrica Psiquiatria não comercial e íntegra Suporte para desmame de drogas psiquiátricas Concepções psicossociais Gerenciamento de benefícios/riscos dos psicoativos Acessibilidade para Deficiência psicossocial Psiquiatria com senso crítico Temas em Saúde Mental Prevenção quaternária Consumo informado Decisão compartilhada Autonomia "Movimento" de ex-usuários Alta psiquiátrica Justiça epistêmica
Pacientes produtores ativos de saúde (prosumo)
Aviso!
segunda-feira, 31 de agosto de 2020
Caridade prejudicial / incapacidade / socialismo
Caridade. A inerente coercitividade da competição está sufi-
cientemente clara. Um resultado de competitividade desenfreada é o
nosso mundo partido em possuidores e despossuídos, uma estrutu-
ra que agora se prova instável. A caridade institucionalizada e priva-
da e as "redes de segurança" governamentais tentam prover níveis
mínimos de apoio para os mais severamente privados, mas eles nem
impediram o alargamento da lacuna econômica nem reduziram a
ameaça de instabilidade social.
Uma solução muito defendida para o problema de uma socie-
dade dividida em dois é impor a igualdade por meio da redistribui-
ção de toda a riqueza e recursos. Esta proposta toma uma de duas
formas, ambas coercitivas: uma é simplesmente tomar todas as pos-
ses das duas metades e dividi-las entre os despossuídos; a outra é a
pesada taxação pelo governo, o suficiente para prover estabilidade
para todos. Aqueles que exigem uma destas soluções não as pensa-
ram até seus resultados finais.
Redirecionar o desequilíbrio atual confiscando e redistribuin-
do, embora possa apelar para o sentido de justiça de alguns, não
produzirá estabilidade. Dada a continuidade da competitividade,
apenas veríamos ciclos repetitivos de concentração e subseqüente
redistribuição forçada de riqueza. Quais são as contingências aqui?
Vencer, embora seja recompensado de início, é finalmente punido;
perder, embora punido de início, é finalmente recompensado. Uma
conseqüência destas contingências serão ondas crescentes de opressão severa
crescente por parte daqueles que ganharam tudo e desejam mantê-lo e
contramedidas crescentemente violentas por parte daqueles que nada têm a
perder.
Tais ciclos de ganho e perda, perda e ganho simplesmente manteriam
eternamente os grupos em disputa, primeiro um dominando e, então, o outro.
Quão freqüentemente vimos este processo se repetindo no terreno da
propriedade? O governo se apropria de toda a terra e a devolve para "o
povo" — os pequenos agricultores. Não demora muito e alguns agricultores
ganharam tudo para si e mais uma vez o governo e os ricos experienciam
ataques violentos de proponentes revolucionários da reforma agrária.
Podemos ver um processo semelhante se iniciando em nossas cidades, onde
a falta de moradia popular está levando governos locais a impor pressões
confiscatórias contra proprietários de terra. A ferramenta coercitiva produzirá
apenas uma nova geração de monopolistas, aqueles que pegaram as menores
parcelas e a juntam novamente para seu próprio beneficio.
A política governamental de bem-estar, que pretende eliminar pelo
menos os extremos de riqueza e pobreza, acabará em uma sociedade dividida
em dois de um outro tipo, não mais satisfatória e produtiva e provavelmente
não mais estável que a atual. Já podemos ver os primeiros resultados da
segurança econômica, habitacional e de saúde que é provida
independentemente de qualquer coisa que o indivíduo faça ou deixe de fazer
— o que quer dizer, sem relação contingente entre conduta e conseqüência.
O que se supõe vir a ser uma sociedade sem classes está a meio caminho de
tornar-se uma nova estrutura de dois níveis, hospedeiro e parasita,
freqüentemente visto na natureza, mas raro, em grande escala, entre humanos.
Isto não é um julgamento de valor, nem um ataque ao liberalismo (nome do esquerdismo nos EUA).
É uma conclusão que a análise do comportamento torna inevitável. Um estado
de bem-estar viola a primeira lei da conduta: o que as pessoas fazem é ditado
pêlo que acontece. Naturalmente, outros fatores modulam esta primeira lei;
conseqüências não agem isoladamente. Mas, é freqüentemente revelador
examinar projeções que não reconhecem como fontes de interferência os
processos básicos de reforçamento. Tais análises podem ser úteis por nos
mostrar para onde nos dirigimos se não modificarmos as contingências.
N o futuro , sem intervenção , quais são os dois níveis a serem
esperados do compartilhar não-contingente de todos os recursos da
comunidade e como surairão estes dois níveis? Um lado da socieda
de do bem-estar conterá produtores, ou outro, parasitas. Pessoas da
classe trabalhadora irão se engajar interativamente em seu ambien-
te, mudando-o, deixando nele sua marca, construindo repertórios de
conduta variados em resposta às contingências naturais e sociais;
os trabalhadores levarão vidas produtivas e potencialmente satisfa-
tórias. Aqueles da classe de parasitas receberão tudo em troca de
nada, recostados com suas bocas abertas à espera de alimento, não
interagindo com e, até mesmo, alienados de seus ambientes; os
parasitas permanecerão infantis e não-produtivos. Este bem conhe-
cido problema familiar, a criança mimada, há de se generalizar para
toda uma sociedade.
Parasitas, com suas necessidades básicas satisfeitas, têm
pouco incentivo para mudar. Por que ser um produtor quando ou-
tros estão dispostos a fazê-lo por você? Por quanto tempo os produ-
tores vão se manter produtivos nestas circunstâncias? Por quanto
tempo vão se manter dispostos a dividir, quando virem os frutos de
seu trabalho desviado para aqueles que os obtêm simplesmente pa-
rando e esperando? A relação é inerentemente instável.
Problemas que se originam de acesso desigual aos recursos
do mundo não serão resolvidos aplicando-se medidas cada vez mais
severas para manter os despossuídos em seu lugar ou, simplesmen-
te, entregando-lhes uma parte. Ambas as soluções abordam o pro-
blema ao contrário, tentando impedir contra-reações, seja eliminan-
do os despossuídos, seja reforçando a passividade. Vimos que tenta-
tivas para eliminar comportamento são finalmente autoderrotadas.
Caridade não-contingente pode ser igualmente devastadora, tornan-
do doadores em hipócritas e recebedores em seres vegetativos.
A satisfação de nossas necessidades independentemente do
que quer que seja que façamos ou deixemos de fazer tornar-nos-á
essencialmente sem comportamento. Contingências ambientais ge-
ram novo comportamento; quando nossos atos produzem conse-
qüências, nós aprendemos. Quando essas conseqüências vêm inde-
pendentemente do que quer que seja que façamos ou deixemos de
fazer, nós ou não conseguimos aprender ou aprendemos, na realida-
de, a fazer nada.
Embora seja sensato e, freqüentemente, satisfatório compar-
tilhar os frutos do sucesso com os menos afortunados, está longe de
ser càritativo tornar este compartilhar não-contingente. Doar cega-
mente, em nome do humanitarismo, garante que aqueles que preci-
sam de caridade porque não têm capacidades produtivas manter-se-
ão incapazes. Não importa quão desagradável consideremos a noção
de controlar os outros por meio de doação contingente, nós os con-
trolamos de qualquer modo—inadvertidamente, mas da mesma forma efetivamente
—por meio de caridade que não está relacionada a qualquer coisa que eles aprendam
ou consigam fazer. A caridade não-contingente produz e perpetua a pobreza.
Portanto, a caridade em si mesma não prove solução para os problemas
que a coerção competitiva coloca. Manter as pessoas sem comportamento não é
um favor para elas, as destrói. Uma classe social definida por incompetência e
ignorância, com a conseqüente inabilidade de seus membros para deixar essa classe
ou mesmo para se sustentarem a si mesmos dentro dela, finalmente tornará o
restante da sociedade ressentido. Tendo sido forçados, em nome da humanidade, a
se manterem no mesmo estado que os torna objetos de caridade, eles finalmente se
tornam alvo de hostilidade e repressão.
Coerção e suas implicações - Sidman
Drogas psiquiátricas e restrição química (coerção)
A sociedade também pratica ou sustenta outras formas de contracon-
trole, nem todas elas justificáveis como medidas protetoras. Nas
instituições, onde a pressão pública reduziu enormemente o uso de
restrição física para controlar o retardado ou o psicótico, restrição
química é ainda praticada extensivamente. Drogas têm substituído a
camisa de força como uma maneira de controlar pacientes que não
colaboram.
Pacientes institucionalizados que mostram distúrbio visível
— talvez justificado — com relação à alimentação, a programas
terapêuticos ou à dignidade de suas interações com a equipe prova-
velmente receberão drogas "para acalmá-los". E uma vez que uma
droga se demonstre bem-sucedida em tornar o paciente cooperativo
é improvável que alguém faça mais tarde um teste para determinar
se a dose é muito alta ou se a droga ainda é, de todo, necessária.
Drogas psiquiátricas são, elas mesmas, uma técnica de contracon-
trole particularmente útil para terapeutas que são incapazes de ou
que não estão dispostos a identificar as causas ambientais da con-
duta que supostamente devem tratar.
Não-cientes de que técnicas comportamentais estão
disponíveis, médicos desesperados recorrem à restrição química
como uma última medida de contracontrole.
Coerção e suas implicações - Sidman
domingo, 30 de agosto de 2020
Consciência forte, conservadorismo e rejeição da singularidade/criatividade
Assim como o animal de laboratório, que gasta todo seu tem-
po esquivando-se de choques, pessoas que têm uma consciência forte
podem andar em um curso estreito. Elas obedientemente fazem o
que é esperado, raramente tentando algo novo. Elas são confiáveis,
corajosas, transparentes e reverentes. Junto com estas inquestioná-
veis virtudes pessoais, entretanto, elas freqüentemente consideram
criatividade uma coisa perigosa, desaprovando-a em si mesmas e nos
outros. Elas freqüentemente consideram a singularidade perturbadora;
ação, crença ou aparência não-convencionais ameaçam sua seguran-
ça. E quando as condições mudam, quando a sociedade relaxa algu-
mas contingências e estreita outras, elas freqüentemente são incapa-
zes de adaptar-se; mudanças as ultrapassam. Estes subprodutos
infelizes de coerção "efetiva" também devem ser esperados quando a
comunidade constrói consciências individuais por meio de punição.
Se frutos proibidos continuam a nos atrair, a comunidade
haverá de nos considerar como tendo consciência fraca e sendo,
portanto, perigosos. Mesmo sem burlar a lei, podemos nos descobrir
com problemas. Simplesmente adotar um estilo de vida incomum
pode nos colocar em conflito com a comunidade mais ampla; ela
considera o diferente como não-confiável. Também podemos nos
sentir em guerra conosco quando somos fortemente tentados a fazer
coisas que aprendemos a chamar de "ruins" ou "perigosas", ou
quando nos descobrimos realmente "indo contra nossa consciência".
Não apenas a comunidade deixa de confiar em nós porque não
podemos nos controlar, mas é provável que não confiemos ou que
desprezemos a nós mesmos. Estas características distintivas de de-
sordens de personalidade e de neuroses são subprodutos adicionais
das práticas coercitivas que a comunidade usa para estabelecer a
consciência individual.
Coerção e suas implicações - Sidman
Loucura dos não loucos (Foucault)
"Os homens são tão necessariamente loucos que não ser louco significaria ser louco de um outro tipo de loucura." Pascal, Pensamentos, apud Foucault, História da loucura.
sexta-feira, 28 de agosto de 2020
Ajustar relógio biológico com exercício
https://www.runnersworld.com/news/a26590745/exercise-body-clock/
Eles descobriram que o exercício é às 7h ou entre 13h e 16h00 avançou o relógio biológico o suficiente para que as pessoas pudessem iniciar as atividades no dia seguinte. Isso significa que eles se sentiram mais revigorados e prontos para malhar mais cedo depois de acordar. Em contraste, exercitar-se à noite entre 19h00 e 22:00 atrasou o relógio biológico, o que significa que eles tiveram mais dificuldade em chegar ao modo de desempenho máximo até mais tarde no dia seguinte. Então, eles se sentiram mais lentos e propensos à soneca ao acordar pela primeira vez, mas tiveram energia depois.
quinta-feira, 27 de agosto de 2020
O que é "anormal"?
O que é "anormal"?
Já deveria ser evidente que a crise comportamental é um
resultado direto de processos de controle normais; conduta anormal,
também, é regida por leis. Assim como a pesquisa sobre reações
corporais normais a ataques virais levou à possibilidade de prevenir
a influenza, a pesquisa sobre ajustamentos comportamentais nor-
mais ao controle coercitivo tem levado à possibilidade de melhorar
algumas formas de doença mental.
Claramente, muitos fatores podem contribuir para a doença
mental e qualquer caso particular requer a consideração de todas as
possibilidades: sociais e individuais, internas e externas. Mas no
final, vemos doença mental na conduta. Compreender e fazer algo
sobre a anormalidade requer análise comportamental. Quando efe-
tuamos essa análise, freqüentemente descobrimos que as leis do
controle coercitivo, atuando por meio de contingências de punição,
fuga e esquiva, fornecem bases efetivas para tratamento.
Embora uma compreensão do caráter ordenado do comporta-
mento possa trazer a prevenção e a cura de muitas doenças men-
tais, muitos psiquiatras e psicólogos agem como se tal compreensão
não fosse possível. Para definir anormalidade eles não especificam
processos comportamentais mas, em vez disso, usam grosseiros cri-
térios estatísticos. Eles vêem com suspeita e tentam curar qualquer
ação que se desvie do usual.
Para onde nos teria trazido a medicina científica se tivesse
considerado a influenza anormal apenas porque era relativamente
rara? A lógica teria nos dito, então, que o problema da influenza
poderia ter sido resolvido do modo mais duro — livrando-se dela —
ou do modo mais fácil — passando-a para todo mundo e, assim,
tornando-a "normal". A doença mental, também, definida estatistica-
mente, poderia logicamente ser eliminada como um problema tor-
nando todo mundo mentalmente doente.
A definição estatística de anormalidade levanta mais do que
um problema simplesmente lógico. Vivemos em uma sociedade com-
plexa e o que uma comunidade admira ou tolera, uma outra conde-
na ou proíbe. Conduta que seria ricamente recompensada em Los
Angeles, envia os cidadãos de Boston para terapia. Sob a capa do
cuidado acadêmico, encontros universitários encorajam detalhismo
e sofisticação que não seriam tolerados em qualquer reunião de
negócios entre executivos; universidades e empresas atraem pessoas
que não poderiam aceitar ou sobreviver aos costumes uns dos ou-
tros. Quem deve dizer que ambiente, que grupo, é anormal — se
algum o é? Na prisão a sociedade releva e até mesmo encoraja a
mesma violência — pelos que a guardam e a habitam, igualmente —
que condena em todos os outros lugares; ações que são anormais
fora da prisão são normais dentro dela.
Porque não conseguimos nos conformar aos costumes de um
segmento particular da sociedade, isto torna nosso comportamento
doente? Precisamos de tratamento? Seguir estritamente este critério
eliminaria toda criatividade; por definição, criatividade é a produção
do não-usual. Infelizmente, a rotulação da criatividade como anor-
mal realmente ocorre mais freqüentemente na arte, literatura e ciên-
cias do que é comumente assumido. Isto também rotularia todo
desempenho superior como anormal. Mais uma vez, infelizmente, os
mais competentes são freqüentemente rotulados como anormais:
atletas excepcionais freqüentemente são vistos como estranhos, per-
formers para nosso divertimento; os mais capazes dentre os alunos
de segundo grau são colocados no ostracismo e até mesmo persegui-
dos por seus colegas menos intelectualizados; o gênio científico é
estereotipado como superespecializado, limitado na sua adaptabili-
dade geral — um tipo de sábio desligado e idiota.
Tentativas de quebrar o raciocínio circular não-produtivo.
que rotula qualquer coisa não-usual como anormal, têm levado a
outras definições de anormalidade. Algumas organizações profissio-
nais listam critérios absolutos para o que é normal. Usando seus
critérios, elas estabelecem padrões de saúde mental. Estes padrões
absolütos de normalidade, embora baseados nos vocabulários da
medicina e da psicologia, não são, freqüentemente, menos arbitrá-
rios que os critérios estatísticos. Eles quase sempre requerem con-
formidade a crenças que são pouco mais que preconceitos pessoais
sobre o que é e o que não é saudável. Embora banhados em respei-
tabilidade profissional, eles raramente têm validade científica ou
clínica.
Muitos psiquiatras estão descobrindo que suas teorias sobre
relações "normais" entre sexos, estão sendo desafiadas por mulheres
que se recusam a desempenhar papéis tradicionais. E assim, eles
rotulam o feminismo moderno como não-saudável, necessitando de
tratamento, precisando ser curado. A própria coerção que a socieda-
de coloca sobre as mulheres que seguem caminhos diferentes da-
queles que foram mapeados para elas é citada como prova da anor-
malidade feminista: "Elas estão apenas procurando problemas." Os
padrões absolutos de normalidade feminina são baseados em tradi-
ção cultural, não em análise científica.
Uma situação semelhante existe com relação à preferência
sexual. Muitos psicólogos, refletindo a hostilidade pública em rela-
ção à homossexualidade, a pronunciam como desviante e oferecem
curas. Tentativas de impor critérios absolutos de normalidade se-
xual não consideram que muitos homossexuais se sentem perfeita-
mente bem consigo mesmos e que muitos outros iriam se sentir bem
se não fosse pelas pressões coercitivas que são exercidas sobre eles.
Dizer que as fontes de todo comportamento, normal ou anor-
mal, são elas mesmas normais, não é negar a existência da anorma-
lidade. Algumas condutas chamadas de anormais, ou doentes, po-
dem ser valiosas para a comunidade, ou podem simplesmente ser
diferentes. Nesses casos, o rótulo "doença" mais provavelmente cau-
sará sofrimento, do que curará sofrimento. No entanto, muitas for-
mas incomuns de comportamento nos incomodam não apenas por-
que são diferentes, mas porque realmente causam sofrimento. Ainda
que elas sejam freqüentemente difíceis de classificar, não podemos
negar a realidade da depressão, das fobias e de outros "mecanismos
de defesa" e de vários tipos de esquizofrenia; todas elas precisam ser
tratadas tão efetivamente quanto saibamos.
E, algumas vezes, a segurança da comunidade está em jogo.
Assassinos de massa, espancadores de mulheres, molestadores de
crianças, criminosos sexuais e outros casos de violência patológica
são seguramente anormais com bases outras do que sua relativa
raridade. Também precisamos tratá-los, mesmo que eles não dese-
jem aceitar tratamento. Se não sabemos como chegar às fontes de
suas anormalidades, apenas podemos admitir nossa ignorância e
colocá-los onde eles não possam nos machucar.
Mas se uma anormalidade é desejável ou não, e se deveria
ser tratada, sempre envolve julgamentos de valor. E o mais efetivo
dos tratamentos sempre surgirá de uma compreensão do estado
normal. Na medicina, a definição de uma doença requer a identifica-
ção de processos internos que estão produzindo os sintomas exter-
nos. Na análise do comportamento, a definição de doença requer a
identificação de processos que estão produzindo e mantendo quais-
quer ações que consideremos como nos incomodando. Identificando
as contingências normais que sustentam o que decidimos ser um
comportamento-problema, abrimos a possibilidade de ir além de
nossos julgamentos de valor.
Coerção e suas implicações - Sidman
quarta-feira, 26 de agosto de 2020
Vida alternativa como esquiva da vida normal
Permanecendo fora do mundo
Uma vez que desistentes tenham fugido de suas famílias,
escolas, ou comunidades coercitivas, eles mantêm sua distância.
Tendo se libertado de um ambiente aversivo, eles então fazem tudo
que estiver ao seu alcance para impedir que esse ambiente restabe-
leça seu domínio. Manter-se sem envolvimento é um ato de esquiva.
Jovens desistentes podem adotar um estilo de vida tão dife-
rente daquele do qual fugiram que sua comunidade original os julga
como tendo se tornado indesejáveis e até mesmo perigosos. Ambien-
tes pobremente mantidos e insalubres trazem perigos para os fugiti-
vos mas servem para uma importante função; eles mantêm o resto
da sociedade a uma certa distância. Famílias, considerando a nova
filosofia, os novos costumes, o novo ambiente e a aparência física de
seus filhos objetáveis e assustadores, abandonam tentativas de tra-
zer de volta a ovelha desgarrada.
Tendo fugido de indivíduos e instituições sociais coercitivos,
desistentes freqüentemente são atraídos para comunidades "margi-
nais" que afirmam que reforçadores mundanos, como pagamento
por trabalho ou talento, são incompatíveis com reforçadores como o
amor, a afeição e o compartilhar que se originam de relações pes-
soais não-egoístas. Juntando-se a uma comunidade com estilo de
vida alternativo, eles se oferecem a um líder carismático para explo-
ração, em troca de proteção contra a sociedade que rejeitaram. Toda
a renda vai para o guru que é, presumivelmente, incorruptível por
dinheiro e pelos confortos que ele torna disponíveis.
O que isto significa é que a sua abdicação de responsabilida-
de e de tomada de decisões permite aos membros de cultos ignorar
e, portanto, se esquivar de pressões para voltar à cena da qual eles
desistiram. Uma atração importante de comunidades e seitas margi-
nais é seu sucesso em proteger membros daquele outro mundo onde
suas vidas foram dominadas por fuga e esquiva. Pode levar tempo
pafa que eles descubram que seus novos reforçadores também são,
na sua maioria, negativos.
Quando a dor de um choque é atrasada, a aprendizagem da
esquiva será lenta; podemos ter de aceitar muitos choques antes de
aprender a evitá-los. Com drogas, também, um longo tempo pode se
passar entre causa e efeito. Drogas que causam adição têm compo-
nentes reforçadores que tornam ainda mais difícil aprender a se
esquivar delas. Também relações pessoais destrutivas freqüente-
mente contêm elementos positivos que por algum tempo sobrepujam
nossas inclinações de nos esquivarmos de situações aversivas. Viver
utria vida de isolamento social ou intelectual pode impor privações,168
Murray Sidrnan
desconfortos físicos e estresses biológicos que terminam em doença
e inabilidade para manter nossa independência. Desistentes do veio
central da sociedade freqüentemente sofrem desses resultados atra-
sados. Eles descobrem que seu novo ambiente desaprova curiosida-
de intelectual, faz com que se sintam culpados por qualquer sinal de
individualidade e considera desconforto e doença como formas de
distinção. Aquilo que primeiro pareceu afetuoso paternalismo torna-
se uma outra forma de exploração. Quando os elementos destrutivos
de seus novos estilos de vida se tornam óbvios o suficiente para
gerar um novo ciclo de esquiva, jovens desistentes podem já ter se
prejudicado irrecuperavelmente.
Mesmo que se mantenham saudáveis, portas terão se fecha-
do para eles, fechando seu acesso à oportunidade para inde-
pendência intelectual, econômica ou política mais convencionais,
ainda assim mais construtivas. Os componentes aversivos de suas
novas vidas podem finalmente tomar-se suficientemente fortes para
sobrepujar os atrativos originais, mas freqüentemente é muito tarde
para ação efetiva.
O reconhecimento dos componentes de esquiva na conduta
dos desistentes da sociedade torna-se mais importante quando que-
remos trazê-los de volta. Tendemos a colocar a culpa nas comunida-
des ou contraculturas que atraem os desistentes, ou em seus estilos
de vida alternativos. Mas a falha está na coerção que permeia as
interações sociais "normais". Ainda que um observador não-envolvido
possa ver as novas formas de coerção a que muitos desistentes se
submetem, permanece o fato de que eles consideram a nova coerção,
pelo menos temporariamente, menos aversiva que a antiga.
Se a sociedade pretender ter uma abordagem construtiva
para o problema de ganhar de volta seus membros perdidos, parti-
cularmente seus jovens, um primeiro passo necessário é admitir que
o comportamento de desistir é esquiva. Compreender as origens da
esquiva iria nos levar a examinar nosso próprio ambiente. Então,
poderemos identificar os choques que tornam as barrar de "desistir"
efetivas. A falha corrigível não está na aparente atratividade dos
alternativos, mas na relativa coercitividade da linha de base "nor-
mal". Em vez de perguntar "para onde foram os desistentes?", deve-
mos perguntar: "De onde eles vieram?"
Coerção e suas implicações - Sidman
Saúde mental, direitos humanos e modelo biomédico
Os sistemas de saúde mental no mundo todo são dominados por um modelo biomédico reducionista que usa a medicalização para justificar a coerção como uma prática sistêmica e qualifica as diversas respostas humanas a determinantes sociais prejudiciais (tais como desigualdades, discriminação e violência) como sendo “transtornos psiquiátricos” que precisam de tratamento. Neste contexto, os mais importantes princípios da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência são ativamente minados e negligenciados. Esta abordagem ignora as evidências de que investimentos efetivos devem visar populações, relacionamentos e outros determinantes, em vez de indivíduos e seus cérebros.
Modelo integrativo da deficiência (na saúde mental)
Nota-se, ainda, segundo Sassaki (2002, p.35), ao caracterizar as condições de integração das pessoas com deficiência:
No modelo integrativo, a sociedade, praticamente de braços cruzados, aceita receber portadores de deficiência desde que estes sejam capazes de:
- moldar-se aos requisitos dos serviços especiais separados (classe especial, escola especial, etc.); 43
- acompanhar os procedimentos tradicionais (de trabalho, escolarização, convivência social, etc.);
- lidar com as atitudes discriminatórias da sociedade, resultantes de estereótipos, preconceitos e estigmas,
- desempenhar papéis sociais individuais (aluno, trabalhador, usuário, pai, mãe, consumidor, etc.) com autonomia, mas não necessariamente com independência.
https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/12971/1/Pr%C3%A9-textuais%20revisados%20final.pdf
[Comentário: O modelo integrativo se define pela responsabilidade de a pessoa com deficiência parecer o mais normal possível e pelos esforços exagerados que isso acarreta. Na saúde mental o modelo integrativo é muito usado. O paciente é visto como o problema, o doente mental, que precisa se desdobrar e fazer esforços especiais que uma pessoa "normal" não precisaria fazer para se adaptar/se ajustar às barreiras atitudinais na sociedade (na psiquiatria tradicional, família e sociedade). A sociedade não quer se implicar nos problemas do paciente pois julga que é natural que as coisas sejam assim, tem seus interesses e acredita que o problema de quem não se ajusta está dentro da própria pessoa (modelo médico em saúde mental). Essas exigências especiais podem desanimar o paciente de querer participar da sociedade e podem gerar a impressão de deficiência psicossocial. A deficiência psicossocial é uma percepção social de que um indivíduo é deficiente em termos mentais e no modelo integrativo vai lá o paciente humilhado servir as pessoas normais por mais que elas façam absurdos. Essas pessoas "normais" podem impor tantas barreiras atitudinais que o diagnóstico psiquiátrico pode ter sido feito totalmente por conta dessas barreiras e a sociedade e psiquiatria tradicional culpa a lesão cerebral ou o organismo dessa pessoa.]
terça-feira, 25 de agosto de 2020
Adolescência e cuidado dos pais
Atenção, por exemplo, usualmente um reforçador positivo para uma criança, pode
colocar problemas delicados depois que a criança tornou-se um
adolescente. Pais que cuidam demais, ou muito intensamente, podem
ser vistos como intrometidos e controladores. Atenção, então,
funcionará como um reforçador negativo; é provável que os pais
notem que sua filha de 16 anos não parece mais querer falar com
eles, fica fora de casa tanto quanto possível e, quando em casa,
permanece calada.
Tendemos a ver o que queremos ver. Portanto, os pais podem precisar
da ajuda de um observador não-envolvido.
O observador pode recomendar que eles respondam às confidencias
de sua filha com afetuoso interesse, mas sem bisbilhotar; que eles
mostrem não apenas seus temores em relação ao seu bem-estar,
mas sua confiança em sua integridade e capacidade de julgar. Se
modular sua atenção a transformar um reforçador negativo em um
reforçador positivo, eles descobrirão que a conduta de sua filha
muda. Desligar-se de seus pais, afastar-se deles e evitar comunicação
não mais será reforçador. Em vez disso, ela interagirá mais
freqüentemente, compartilhando experiências, confidenciando, confiando,
mudando de fuga e esquiva para aproximação.
Coerção e suas implicações - Sidman
Antidepressivos e ambiente
Companhias farmacêuticas destinam imensos orçamentos para o desenvolvimento e teste clínico de drogas antidepressivas. Alguns psiquiatras tornaram-se pouco mais que passadores de pílulas, prescrevendo drogas para ajudar a atenuar sentimentos de ansiedade que acompanham a depressão e, então, prescrevendo drogas adicionais na esperança de eliminar efeitos indesejáveis e mesmo perigosos dos agentes ansiolíticos.
Drogas que agem somente para reduzir estados fisiológicos de ansiedade podem fazer os severamente deprimidos relatarem que eles se sentem melhor, mas o remédio não necessariamente restaura atividade construtiva. Uma droga que acalma o sistema nervoso autônomo, embora deixando o paciente comportamentalmente deprimido, pode produzir um comentário como: "Oh sim, o remédio ajuda. Eu ainda estou deprimido, mas agora não me incomoda." Não mais trêmulo, sentindo dor, chorando, o paciente, entretanto, pode ainda passar todo o dia na cadeira de balanço, evitando com sucesso choques reais ou imaginários.
Se, em vez de tentar abrandar sua angústia interna, seu terapeuta se concentrasse em tentar identificar os choques e os reforçadores que estavam mantendo sua ausência de comportamentos, alguma coisa poderia ter sido feita para colocá-la de pé e movendo-se novamente.
Coerção e suas implicações - Sidman
The Anti-Authoritarian Mind
https://www.corbettreport.com/interview-474-the-anti-authoritarian-mind-with-dr-bruce-levine/
Interview 474 – The Anti-Authoritarian Mind with Dr. Bruce Levine
Dr. Bruce Levine is a practicing clinical psychologist and an author, speaker and educator about the ways that society, culture, politics and psychology intersect. Often at odds with the mainstream of his profession, his writing has appeared in numerous online publications and he is the author of numerous books including Get Up, Stand Up: Uniting Populists, Energizing the Defeated, and Battling the Corporate Elite. Today he joins us to discuss the pathologization of anti-authoritarianism and how mainstream psychology attempts to limit the boundaries of “acceptable” political dissent. We also discuss the learned helplessness and pessimism of the anti-authoritarian mindset and how critical thinking can help people overcome their hopelessness and begin to effect change.
Filed in: Interviews
Tagged with: political philosophy • psychology
sexta-feira, 21 de agosto de 2020
Culto à perfomance
[É necessário se adaptar às ideologias]
O objetivo do livro é explicar que o culto à performance é uma
maneira de enfrentarmos as transformações ocorridas na noção
de igualdade. Em outras palavras: toda sociedade democrática
possui princípios para resolver a contradição entre o justo e o
injusto, entre igualdade de princípios e desigualdades reais: de
oportunidades, de renda e de acesso ao poder. A sociedade fran-
cesa do pós-guerra, por exemplo, baseava-se em um modelo de
igualdade que opunha concorrência e justiça, ou seja, era uma
sociedade que buscava limitar as conseqüências negativas da
concorrência, preservando a justiça na distribuição de recom-
pensas e sanções. No entanto, ao longo da década de 1980, a
sociedade francesa se converteu aos valores da concorrência, da
competição e da conquista. Esportistas, aventureiros, inventores,
profissionais autônomos, trabalhadores abrindo suas próprias
empresas e outros “combatentes” tornam-se figuras populares.
Um novo modelo de igualdade apareceu, um que fazia com que
o que era considerado “justo” era um produto direto da concor-
rência. Pois é exatamente isso que representa a competição es-
portiva: ela é a única atividade social que encena a união har-
moniosa da concorrência com a justiça. Ela é a própria imagem do
que é uma igualdade justa. Roberto da Matta mostrou muito bem
isso em relação ao futebol no Brasil. Os novos objetos de identifi-
cação e as novas normas tinham como elemento comum o fato de
que saímos do mundo da disciplina para entrar no da autonomia.
Hoje, empreender se tornou o único modelo de conduta possí-
vel. Em contrapartida, as desigualdades se mantêm, embora te-
nham mudado de estilo e de formato. Há hoje um novo debate
sobre as desigualdades, pois em um mundo que promete, antes
de qualquer coisa, o sucesso individual, as desigualdades são
cada vez mais encaradas como uma falha pessoal. As expectati-
vas aumentaram, mas não as possibilidades de realizá-las. Na
prática, sabemos que a realidade da vida social não funciona
com base em uma concorrência justa.
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/gvexecutivo/article/download/34605/33411
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
Desistir
Desistir de aspectos coercitivos, mas importantes, da vida
pode empobrecer severamente nossa existência. A sociedade tam-
bém é a perdedora quando um indivíduo pára de participar. Usar
uma barra de desistência para fugir da coerção é uma adaptação
não-produtiva. Desistentes não contribuem, seja para o seu bem
estar, seja para o bem-estar geral.
Murray Sidman - Coerção e suas implicações
Desistindo da família
Desistindo da família. Um outro fugitivo trágico é o que desis-
te da família. Muitos jovens vivem com punição freqüente em casa.
Se a maior parte da atenção que obtêm vem na forma de punição,
com pouco reforçamento positivo compensatório, é provável que eles
deixem a velha casa paterna assim que surja uma oportunidade.
Eles podem começar prestando pouca atenção ao que é dito a eles e
ainda menos ao que é dito à sua volta em casa; eles não assumem
maiores responsabilidades na casa além das que são forçados; eles
nem dão nem solicitam afeto. Eles primeiro se desligam da vida
familiar e, então, quando se torna possível desistir, eles se vão.
A sociedade provê um conjunto de desculpas aceitáveis para
deixar a família. Ir para escola longe de casa é uma técnica de fuga
aprovada, assim como encontrar um bom emprego muito distante.
Gravidez é um modo tradicional para adolescentes conseguirem per-
missão para se casarem, até mesmo dos pais mais relutantes. Casa-
mento, possibilitado por gravidez precoce, ou por atingir a idade
legal, é uma rota de fuga da família socialmente aceita. Em muitos
estados, ser mãe solteira permite a uma garota fugir de sua família
para os braços da previdência pública, que a sustenta em seu pró-
prio domicílio.
Sair de casa para a escola, o trabalho, o casamento ou a
previdência pode, naturalmente, produzir reforçadores positivos e
nem sempre é o resultado de controle coercitivo. Mesmo quando o é,
tal rota de fuga pode tornar possível uma vida melhor para o fugiti-
vo. Entretanto, não podemos deixar de nos entristecer quando ve-
125
mos jovens terem de fugir para as responsabilidades da vida adulta,
freqüentemente muito cedo e despreparados, em vez de serem capa-
zes de aproveitar aquele estágio da vida como uma fonte de novas
satisfações.
Um dos problemas mais difíceis da paternidade é segurar os
filhotes até que eles estejam prontos para voar, nem forçando-os a
ir-se cedo demais, nem fazendo-os ficar tempo demais. Como pais,
sempre temos que estabelecer limites para nossos filhos e esta ne-
cessidade pode facilmente nos jogar na armadilha do controle coerci-
tivo. Mas não precisamos tornar o "Não" um punidor; podemos ensi-
nar nossos filhos a aceitar ambos, "Sim" e "Não", como um conselho
de alguém querido sobre o que funcionará e o que não funcionará,
como um auxílio na aprendizagem das regras pelas quais o mundo
opera. Algumas vezes, entretanto, eles insistem em descobrir coisas
por si mesmos, especialmente quando amigos os convenceram de
que os pais não podem em qualquer hipótese compreender suas
necessidades. Nada podemos fazer quando isso acontece, a não ser
esperar e observar; se já não os tivermos desligado por tentar coagi-
los a fazer as coisas à nossa maneira, então, se eles cometerem um
erro, não hesitarão em vir a nós para ajuda.
O problema se estabelece quando pais desistem da família.
Intuitivamente reconhecendo divórcio e separação como fuga, as
crianças freqüentemente se culpam pela partida de um dos pais.
Mas, mesmo que um dos pais fuja apenas em espírito — por meio de
doenças psiquiátricas incapacitadoras, alcoolismo, excesso de traba-
lho ou excesso de televisão — o modelo de fuga está ali para as
crianças imitarem quando elas criarem suas próprias famílias. Fuga
da família tem um modo de se perpetuar. Podemos fugir do ambien-
te coercitivo de nossa família, mas, a menos que tenhamos um outro
modelo para seguir, criamos nossa própria cópia. E então, nossos
filhos mantêm a tradição coercitiva viva.
Murray Sidman - Coerção e suas implicações
Desistindo da sociedade
Desistindo da sociedade
Fugitivos de um outro tipo desistem
completamente do fluxo principal da sociedade. Alguns apenas flu-
tuam nas águas estagnadas, alguns lutam em águas turbulentas,
alguns tentam mudar a direção da corrente e alguns tentam explodir
os diques e afundar todos nós. Eles vão das crianças "da paz e do
amor" dos anos 60 e seus sucessores guiados por gurus — autocen-
trados, mas pacíficos, perturbadores em sua disposição de ser explo-
rados — ao extremo oposto do continuam de desistentes, os terroris-
tas de hoje — autocentrados e violentos, amedrontadores por causa
de seu total desprezo pela vida humana e pelos seus produtos.
Também encontramos muitos em estágios intermediários. Alguns se
retiraram apenas dos aspectos abertamente competitivos da vida130
Murray Sidrnan
mas mantêm-se artística ou intelectualmente criativos. Outros devo-
tam suas energias não tanto para a produtividade, como para a
preservação. Ainda outros tentam mudar o sistema por meio de
mecanismos socialmente aceitos como legislação, campanhas publi-
citárias, apoio a candidatos políticos, filiação em partidos ou de-
monstrações não-violentas.
A sociedade, rotulando como caronas aqueles que adotam
estilos de vida não-produtivos, dirige abuso social e político a eles. A
comunidade vê desistentes que encontram segurança nos rituais e
despotismo benevolente de um auto-intitulado profeta como amea-
ças a modos estabelecidos de conduta. Ela interpreta sua fuga como
um tapa na cara dos pais e outros responsáveis por integrar os
jovens na comunidade. Freqüentemente, pessoas que são rejeitadas
pelos desistentes voltam-se contra eles, tentando tirar sua liberdade,
classificando-os como mentalmente doentes ou incompetentes. A so-
ciedade se opõe até mesmo àqueles que podem ser chamados de
desistentes construtivos — aqueles que usam recursos-padrão e mo-
ralidade convencional na tentativa de mudar a estrutura da socieda-
de — invocando os mesmos mecanismos e moralidade socialmente
aprovados para preservar o status quo. Dissidentes, tratados como
desistentes, descobrem-se alvos de abuso verbal, físico e econômico.
"Se as conseqüências de desistir são tão opressivas e mesmo
perigosas", pode-se perguntar, "por que tantos tomam este cami-
nho?" Quando indivíduos insistem em abrir mão dos reforçadores
positivos que uma sociedade torna disponíveis, até mesmo trazendo,
em vez disso, punição severa sobre si mesmos, uma análise compor-
tamental dos indivíduos e sua sociedade torna-se necessária. Histó-
rias individuais revelarão que muitos que são classificados como
desistentes jamais foram realmente admitidos nos grupos dos quais
eles supostamente se retiraram. Eles podem, na verdade, ser fugiti-
vos da coerção, mas podemos chamá-los de desistentes se a socieda-
de nunca os assumiu como membros, para começar? Eles não esco-
lheram uma vida de opressão; eles não tiveram alternativa. Embora
tratados como desistentes, eles realmente são banidos.
É provável que descubramos, então, que muitos que parecem
tér desistido jamais tiveram acesso a reforçadores positivos suposta-
mente disponíveis. Crianças de minorias sociais freqüentemente
crescem sem escolarização efetiva, especialmente se repressão so-
cial, política e econômica impediu sua comunidade de desenvolver
uma tradição de mobilidade social ascendente. Longe de desistir,
elas foram excluídas do grupo.Coerção e suas implicações
131
Em famílias economicamente bem-sucedidas, o único apoio
paterno que alguns adolescentes conhecem é o monetário e mesmo
esse apoio não é contingente a qualquer coisa que eles façam ou
deixem de fazer. Estes jovens emocionalmente privados, a quem
jamais se ensinou responsabilidade social ou financeira, jogarão fora
seus recursos facilmente obtidos em busca de quaisquer reforçado-
res positivos que passem ao seu alcance. E assim encontramos
muitas crianças privilegiadas, cortadas dos laços familiares normais,
movendo-se para fora de seu vazio social e emocional em direção à
cultura da droga.
Por outro lado, também encontramos muitos para quem pu-
nição e reforçamento negativo anularam quaisquer reforçadores po-
sitivos disponíveis. Eles vão dos que sofreram abusos físicos e se-
xuais a aqueles que simplesmente descobriram como repulsivas as
inconsistências e hipocrisias da civilização. Para eles, sair do fogo
para cair na frigideira pode ser um ato de desespero. Controle coer-
citivo que faz isso desperdiça vidas. O crescimento do indivíduo
cessa e a sociedade perde as contribuições potenciais de seu mem-
bro desistente.
Embora esses desistentes possam apenas trocar uma situa-
ção ruim por outra, eles ainda podem obter acesso a reforçadores
dos quais anteriormente estavam excluídos, ou podem encontrar
novos tipos de reforçadores para substituí-los; estes podem recom-
pensar as novas dificuldades. Ao tentar entender por que os desis-
tentes parecem tão desejosos de trazer para si a ira da sociedade,
temos que considerar todas as alternativas e opções que desistir
torna disponíveis. Amizade e afeição, abertamente dadas e recebi-
das, mesmo em um refúgio onde a fome e o desconforto físico preva-
lecem, podem facilmente contrabalançar um ambiente anterior que
provia todas as necessidades físicas, mas punia calor emocional.
Desistentes de setores privilegiados da sociedade, algumas vezes se
descobre, sacrificaram segurança econômica por segurança emocio-
nal.
<
Considera-se que certas drogas "aumentam a consciência",
embora na realidade reduzam a acuidade sensorial, distorçam a
percepção e prejudiquem o julgamento. Entretanto, junto com estas
desvantagens, as drogas também podem produzir esquecimento das
restrições, repressões e agressões da vida. Portanto, drogas podem
ajudar a mitigar ambos, os desconfortos de um estilo de vida alter-
nativo e o abuso adicional que um ambiente coercitivo aplica ao
tentar reclamar de volta seus desistentes.132
A longo prazo, sair da sociedade não funciona, seja generica-
mente ou para o indivíduo. A sociedade sobrevive a seus membros e
sua paciente coerção esmaga rebeliões não-construtivas. Embora
aqui e acolá indivíduos realmente encontrem um nicho não-tradicio-
nal para si mesmos, ocasionalmente até tendo sucesso na alteração
de práticas de comunidades, o destino usual de um desistente é a
inefetividade — verdadeiro esquecimento. O desperdício é enorme.
Murray Sidman - Coerção e suas implicações
domingo, 16 de agosto de 2020
A ABRATA e o "preconceito"
A associação de pacientes de transtornos afetivos (ABRATA) faz propaganda contra preconceito que na verdade é pretexto para medicalizar comportamentos não esperados socialmente. O discurso subjacente é que o único caminho é o modelo biomédico e que esse necessariamente é benéfico. Associações de pacientes tem ligações com a indústria farmacêutica: é assim que conseguem se manter.
Sobrecarga de dopamina e abstinência de neurolépticos
sábado, 15 de agosto de 2020
Invega / Sustenna / Trinza
Invega
Tempo para início da ação
• Os sintomas psicóticos podem melhorar dentro
de 1 semana, mas pode levar várias semanas
para efeito completo no comportamento e na
cognição
• Classicamente é recomendado esperar pelo me-
nos 4 a 6 semanas para determinar a eficácia da
substância, mas, na prática, alguns pacientes
podem requerer até 16 a 20 semanas para apre-
sentar uma boa resposta, especialmente nos sin-
tomas cognitivos
• A maioria dos pacientes com esquizofrenia não
tem uma remissão total dos sintomas, mas uma
redução de aproximadamente um terço
• Talvez 5 a 15% dos pacientes com esquizofrenia
possam experimentar uma melhora geral de mais
de 50 a 60%, especialmente se receberem trata-
mento estável por mais de 1 ano
• Esses pacientes são considerados super-respon-
dedores ou “awakeners”, já que podem ficar su-
ficientemente bem para obter emprego, viver de
forma independente e manter relações de longa
duração
Mesmo em indivíduos sem diabetes conhecida,
manter vigilância para o início raro, mas potencial-
mente fatal, de cetoacidose diabética, que sempre
requer tratamento imediato, monitorando o início
súbito de poliúria, polidipsia, perda de peso, náu-
sea, vômitos, desidratação, respiração rápida, fra-
queza e turvação da consciência, até mesmo coma
• Deve ser verificada a pressão arterial em idosos
antes de iniciar o tratamento e durante as primei-
ras semanas de tratamento
• O monitoramento dos níveis elevados de prolacti-
na é de benefício clínico questionável
• Pacientes com baixa contagem de leucócitos
ou história de leucopenia/neutropenia induzida
por substância devem ter hemograma completo
monitorado frequentemente durante os primeiros
meses, e a paliperidona deve ser descontinuada
ao primeiro sinal de declínio de leucócitos na au-
sência de outros fatores causativos
Efeitos colaterais potencialmente fatais ou
perigosos
• Hiperglicemia, em alguns casos extrema e as-
sociada a cetoacidose ou coma hiperosmolar ou
morte, foi relatada em pacientes que tomavam
antipsicóticos atípicos
Ganho de peso: comum
• Muitos pacientes experimentam e/ou pode ocor-
rer em quantidade significativa
• Pode ser dose-dependente
• Pode ser menor do que com alguns antipsicóticos
e maior do que com outros
Sedação: comum
• Muitos experimentam e/ou pode ocorrer em
quantidade significativa
• Pode ser dose-dependente
• Pode ser menor do que com alguns antipsicóticos
e maior do que com outros
O tratamento deve ser suspenso se a contagem
de neutrófilos absolutos cair abaixo de 1.000/mm3
• As doses orais correspondem às doses com inje-
ção da seguinte maneira: 3 mg orais para 39 a 78
mg de injeção, 6 mg orais para 117 mg de injeção,
12 mg orais para 234 mg de injeção
Disfagia foi associada ao uso de antipsicóticos,
e a paliperidona deve ser utilizada com cautela
em pacientes em risco para pneumonia por as-
piração
Entretanto, a polifarmácia de longo prazo com
combinação de 1 antipsicótico convencional
com 1 atípico pode combinar seus efeitos cola-
terais sem claramente potencializar a eficácia de
cada um
• Embora seja uma prática frequente por parte de
alguns prescritores, o acréscimo de 2 antipsicóti-
cos convencionais em conjunto faz pouco sentido
e pode reduzir a tolerabilidade sem um claro au-
mento na eficácia
Reclame aqui + nome droga psiquiátrica no google
É divertido procurar o nome das drogas psiquiátricas no reclame aqui no google.
A Medley e o tratamento não farmacológico
A Medley está falando em tratamento não farmacológico. É o tal do mascaramento do efeito negativo ou da falta de eficácia do psicofármaco que eu já tinha afirmado antes.
Daniele ainda ressalta que a Medley está protagonizando uma mudança na forma de se comunicar com o consumidor no setor farmacêutico, investindo em plataformas digitais, canais de comunicação e experiências diferenciadas para estreitar o relacionamento com os consumidores. “Estamos apostamos em experiência de marca, no âmbito real e digital, para propor mudanças de comportamento à população, apresentando tratamentos não farmacológicos e provendo o bem-estar e saúde”, conclui a gerente.
É divertido procurar reclamações das drogas psiquiátricas no reclame aqui. O pessoal faz pouco caso de genéricos.
alprazolam reclame aqui no google:
segunda-feira, 10 de agosto de 2020
Revisão do blogue e classificação por temas
Aleluia de Bach (Ironia)
Aleluia de Bach tocada em órgão barroco
Bach - Air (from Suite No. 3 in D BWV1068)
https://www.youtube.com/watch?v=Wx6vS339VEI&list=PL7_YgCE1N-bJELyqaXqYXnweiDgFvsKXz
domingo, 9 de agosto de 2020
O mito da esquizofrenia como doença progressiva
O mito da esquizofrenia como doença cerebral progressiva
- não é de todo bem compreendido e é tão variado e complexo em suas experiências e resultados quanto os muitos fatores que contribuem para isso.
- é melhor compreendida não como uma doença biológica baseada no cérebro, mas como uma síndrome: com muitos fatores contribuintes e desencadeadores, incluindo maior suscetibilidade de genes, maior suscetibilidade de condições de nascimento, fatores ambientais como estresse, pobreza, eventos da vida e os tipos de tratamento recebido.
- tratamentos e outros fatores como a pobreza e a falta de acesso a serviços, que muitas pessoas com o diagnóstico vivenciam, tanto pode impedir bons resultados, e podem em si mesmo ser prejudicial, e assim contribuem para a degradação que ocorre.
- a suposição e a crença de que o declínio gradual é inevitável em todas as pessoas com diagnóstico de “esquizofrenia” é comprovadamente falsa.
- a suposição e a crença de que as pessoas não podem se recuperar da esquizofrenia são claramente falsas - as pessoas se recuperam.
O mito da esquizofrenia como doença cerebral progressiva
- Para quem a correspondência deve ser endereçada; St Joseph's Healthcare Hamilton, 100 West 5th Street, Hamilton, Ontario L8N3K7, Canadá; tel: 905-522-1155 x 36250, fax: 905-381-5633, e-mail: bzipursk@stjosham.on.ca